No dia 04 de outubro, o rio São Francisco faz aniversário, dia do Santo
que lhe dá nome, também padroeiro de minha terra natal, Vargem Bonita-MG, que,
apesar de ter sido emancipada em 12.12.1952, tem como uma das maiores
expressões de fé, alegria, tradição, cultura e arte, a data em que se comemora
e se festeja o seu Padroeiro, São Francisco de Assis, sendo ela a primeira
cidade a ser banhada pelo RIO DA UNIDADE NACIONAL.
Descoberto em 1.501, pela expedição de Gaspar de Lemos, que, como de costume
na época, batizou-o com o nome do santo do dia, São Francisco de Assis. O Rio e
seu vale têm as dimensões de um país, um grande e pobre país: O País do São
Francisco, que ocupa uma área de 640.000 Km2, maior do que a França, 2 vezes a
Itália, 7 vezes Portugal e 19 vezes a Holanda, e corresponde a 7,5% da área do
Brasil. Abrange mais de 400 municípios e passa por cinco Estados: Minas, Bahia,
Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Tem uma população de cerca de 15 milhões de
habitantes.
O São Francisco, que percorre 2.660 km até sua foz,
no oceano Atlântico, nasce no alto da Serra da Canastra, município de São Roque
de Minas – MG.
Logo em seus primeiros passos nos presenteia com uma enorme e
linda cachoeira, a primeira de toda a sua trajetória que ora apenas se inicia: a
cachoeira de Casca D’anta, com cerca de 180 metros de altura, em queda livre.
Segue em correntezas por diversos km, período que
praticamente abraça a minha tão querida terra natal, a pequenina, mas muito
amada, Vargem Bonita, onde familiares e amigos meus ainda vivem, aos quais
abraço com saudade.
Seguindo seu percurso sinuoso e
cheio de correntezas e pequenas quedas, ele encontra seu primeiro espaço de
remanso e alagamento, já no município de Iguatama - MG, onde, por intervenção
da desastrosa mão humana, sofreu um encurtamento de seu percurso em cerca de 7
km, onde era muito sinuoso, com diversas lagoas no entorno, quando muitas
secaram, apesar de serem berços de procriação de diversas espécies de peixes.
Ultrapassados seus primeiros
ataques, segue seu caminho, atravessa o grande sertão dos cerrados e dos campos
gerais, penetra no sertão da caatinga e encontra, em seu caminho, no sertão da
Bahia e de Pernambuco, a região mais pobre e árida do Brasil, um quase deserto,
onde o padrão de vida é um dos mais baixos do mundo.
O Rio da Unidade Nacional
praticamente não recebe águas constantes ao longo de 1/3 de seu curso.
Entretanto, em Minas Gerais, onde tem 37% de sua bacia, recebe 70% de suas
águas, enquanto que, nos últimos 755 Km de seu curso, só recebe água perene de
pequenos rios, quando já se aproximando de sua foz.
A contar da nascente até Pirapora - MG, numa
extensão de 610 Km, em terras de chuvas quase sempre fartas, os homens que o
rio encontra em seu caminho não dependem muito dele. Neste espaço o Rio não é
caminho, a navegação só é possível em alguns trechos e em pequenos barcos. Ele
também não é a única água para matar a sede e molhar a terra, como nos sertões
depois de Pirapora. Mas mesmo assim, exerce um grande fascínio em quem vive
perto de suas margens.
De Pirapora a
Juazeiro/Petrolina, numa extensão de 1.291 Km, onde vive o povo mais pobre e
isolado do vale, o rio já se torna senão o único, o principal caminho. E a
partir de Bom Jesus da Lapa o rio atravessa as terras mais áridas do Brasil.
São cidades agarradas à beira do rio, vivendo quase só dele, como Gameleira,
Barra e Xique-xique.
A partir de Remanso, na Bahia, o rio não recebe
praticamente nenhum afluente perene e ainda é a única fonte de água num raio de
centenas de quilômetros.
As águas do São Francisco formam a mais antiga
das nossas estradas interiores e seu vale foi a área pioneira de ocupação dos
sertões, mas está ainda mergulhado na pobreza e no subdesenvolvimento. Em
muitos lugares, a maior riqueza do País do São Francisco é o próprio rio. O
homem do vale através dos séculos se habituou a ver no rio um milagre do sertão
e quando tudo seca na caatinga, o rio se torna "encolhido", mas é um
milagre da vida. Nas grandes planícies semiáridas, homens e bichos vivem
exclusivamente dele. Nasce-se, vive-se e morre-se na dependência de suas águas.
O rio não é só caminho. É origem e vida. Fora dele, é o deserto, o sertão sem
jeito, a caatinga predominante em cerca de metade de sua bacia. Mais de 2/3 do
curso do rio está dentro da região semiárida de cobertura vegetal extremamente
pobre.
O São Francisco é um rio
generoso e principalmente de boa intenção e de boa-fé, como são também os seu
habitantes. Nasce em terras de boas chuvas, mas não muito rica de vegetação,
vai-se degradando, os afluentes diminuindo, a caatinga se impondo, até o rio
encontrar o deserto em seu caminho. Ele corre como um milagre pela terra
desolada e seca do cerrado e das caatingas. Na opinião da maioria dos
barranqueiros, o São Francisco "foi mandado por Deus" para aliviar a
secura daquelas terras tão sedentas. Deus resolveu naquele momento plantar sua
nascente bem lá naquela magnífica serra, bem pertinho de onde nasci. Nenhum dos
planos feitos para salvar o vale conseguiu até hoje alterar substancialmente as
condições miseráveis em que vive a maior parte de seu povo.
Será que o rio também fez o voto de pobreza do
santo que lhe deu nome? Pode até ser isso mesmo, pois mesmo já tão depenado,
ainda encontra uma forma de ajudar a outras regiões tão carentes quanto a dos
sertões da caatinga, cedendo parte de suas águas a servir a outros tantos
brasileiros tão sedentos quanto estes, através da transposição, tão sonhada desde os tempos do Império e, quem sabe, agradecido por ter recebido antes, ainda tão perto de sua nascente, águas da primeira transposição que o envolvia, as água do Rio Piumhi, que recebe este nome por conta de uma cidade onde vive por muitos anos e que nela ainda reside familiares e muitos amigos, amo-a, como se fosse também minha terra natal.
O rio São Francisco liga as
duas regiões de povoamento mais antigo do país, o Nordeste e o Sudeste. Por
isso é denominado Rio da Unidade Nacional. Esta interligação se deu através da
pecuária. Partindo da Bahia, o gado alcançou o rio São Francisco, acompanhando
o seu curso, tendo rápido crescimento, principalmente, a partir de 1.701,
quando uma Carta Régia proibiu a criação de gado em faixa de 10 léguas do litoral,
por causa dos canaviais. Sem alternativa, as tropas entraram sertão adentro, em
direção ao grande rio, onde encontraram pastagens medíocres, mas amplas, e lambedouros
naturais nas rochas de sal-gema, além do clima sadio. Muitas cidades às margens
do São Francisco nasceram destes currais que os primeiros povoadores foram
plantando ao longo de seu curso, há mais de 3 séculos. Por ter sido caminho e
criatório de bois, o São Francisco já foi chamado de Rio dos Currais. As
planícies prolongadas em suas margens facilitaram sua penetração. O homem foi
tocando o gado e ocupando as vastidões das terras do vale. O desenvolvimento da
pecuária se tornara mais acentuado a partir de 1690, com a descoberta do ouro
em Minas Gerais, que abrira mercado novo para o gado e para as plantações do
Alto São Francisco.
Os barcos se multiplicaram
rio-abaixo e rio-acima, trazendo e levando mercadorias e escravos até a zona de
mineração.
Vale a pena frisar que o vale do São Francisco talvez tenha sido nossa
primeira experiência de nacionalidade, quando o Brasil começou a abandonar suas
raízes portuguesas. Os pioneiros do vale, separados da costa por muitas léguas
de caatinga e rio não navegável, tiveram que construir seu próprio mundo. Era
português comendo cuscuz, jenipapo, farinha de mandioca, rapadura, dormindo em jiraus
...
O Rio São Francisco já enfrentou e ainda enfrenta grandes secas, suas
águas reduz a proporções mínimas, mas continua a correr. Todos que vivem no
vale, devem colaborar para que o São Francisco cumpra o destino que Deus lhe
deu: Levar água onde mais se precisa dela. Ele é uma dádiva de Deus, criada Lá
na Serra da Canastra, passando por tantos desafios, até chegar em sua foz, no
oceano Atlântico, entre os Estados de Sergipe e Alagoas, onde parece que ele
chegou ao paraíso e se despede de nós, o que não é uma verdade, pois aquele paraíso
ele o criou e uma dádiva de Deus jamais se despede de quem a reconhece, ama e
cuida. Cuidemos todos dele, desde sua nascente em sua primeira gota d’água, e ele
nos dará vida e nos brindará com paraísos em toda a sua extensão.
Assitam: https://www.youtube.com/watch?v=AOf01NOYHjA
Trabalho de pesquisas, adaptações e
fotografias disponíveis na Web, especialmente Artigo de Francisca Fonseca, de Bom
Despacho – MG.